A transição do Ensino Médio ou curso preparatório para a universidade é sempre complicada. Para muitos de nós, é a primeira vez que estaremos morando sozinhos, longe dos nossos pais e do conforto da nossa casa, longe dos nossos amigos e de tudo que nós conhecíamos. Precisamos fazer novos amigos, nos acostumar com um novo lugar e uma rotina completamente diferente de tudo que conhecíamos e em cima de tudo isso, precisamos lidar com as demandas acadêmicas dos nossos cursos, que muitas vezes não são fáceis. Para as pessoas que, por morarem em Campinas ou em cidades próximas, permanecem na casa dos pais ou parentes as coisas não são muito mais fáceis: você se vê dividido entre dois mundos, o que era sua vida até aquele momento e a vida nova que você está construindo na universidade. É um período de mudanças intensas e muita adaptação e nem todos nós conseguimos lidar com isso da melhor maneira (e está tudo bem).

Ao longo dos nossos cursos, a pressão da vida acadêmica tende a aumentar e as demandas se tornam cada vez mais desafiadoras. Muitos de nós, por diversos motivos, se sentem oprimidos por essas demandas e desenvolvem ansiedade e quadros de estresse; seja por não conseguir atendê-las, seja por estar se desgastando intensamente nesse processo.

Além disso, muito de nós internalizamos o estigma de que “cursos de humanas são mais fáceis do que os outros cursos da universidade”, o que nos faz sentir duplamente culpados pelas dificuldades pelas quais estamos passando. É importante lembrar que cursos de humanas, de exatas e de biológicas possuem cada qual suas particularidades, dificuldades e desafios a serem enfrentados pelos alunos. Nossas demandas podem ser diferentes das dos alunos de engenharias, mas elas existem.

No Brasil, a taxa de suicídio na população de 15 a 29 anos — em idade universitária — aumentou quase 10% desde 2002, de acordo com o Mapa da Violência 2017, estudo feito a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. [1] Em 2014, foram registrados 792 casos de suicídio de jovens nessa mesma faixa etária. Na USP foram registrados 6 tentativas de suicídio apenas no início de 2017. [2] O suicídio de um doutorando na USP em outubro do ano passado levantou o debate sobre a saúde mental e as dificuldades enfrentadas pelos alunos na pós-graduação. [3]

A questão principal é: precisamos quebrar o silêncio e o tabu envolvendo questões da ordem da saúde mental. Esses dados são alarmantes, mas muitas vezes invisibilizados porque nós como sociedade não gostamos de falar sobre suicídio e doenças psiquiátricas, entretanto não falar sobre um problema não faz com que ele desapareça. O silêncio precisa acabar. Não podemos continuar permitindo que as situações cheguem a casos extremos para então discutir essas questões.

Fiquem atentos com a sua saúde mental e a de seus amigos, não negligenciem os sinais que os nossos corpos dão quando estamos próximos do limite: não é normal se sentir estressado, cansado, frustrado e triste o tempo todo. Aqui na Unicamp existe o SAPPE (Assistência Psicológica e Psiquiátrica da Unicamp) que oferece um atendimento gratuito para os alunos. Para agendar consultas, é só ir até o prédio do SAPPE (que fica ao lado do bandejão) de segunda a quinta das 8h30 às 19h30 e de sextas das 8h30 às 17h30. O SAPPE também oferece um Pronto Atendimento Psicológico diariamente às 12h, porém é recomendado que você chegue cedo pois só duas pessoas são atendidas por dia. O Hospital de Clínicas da Unicamp também possui pronto atendimento psiquiátrico. Não deixem de buscar ajuda especializada e caso sintam que o seu caso não é “tão sério assim”, lembrem-se: se faz  com que você se sinta mal consigo mesmo, é sério o suficiente.

SAPPE

Endereço: R. Sérgio Buarque de Holanda, 89 – Cidade Universitária, Campinas – SP

Tel: (19) 3521-6643/(19) 3521-6644H

 

Hospital de Clínicas da Unicamp

Endereço: R. Vital Brasil, 251 – Cidade Universitária, Campinas – SP

Tel: (19) 3521-2121

 

Referências

[1] https://vivabem.uol.com.br/noticias/redacao/2018/07/05/suicidio-e-a-segunda-causa-de-morte-entre-universitarios-veja-como-evitar.htm

[2] https://catracalivre.com.br/educacao/por-que-universidade-esta-deixando-os-estudantes-doentes/

[3] https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2017/10/1930625-suicidio-de-doutorando-da-usp-levanta-questoes-sobre-saude-mental-na-pos.shtml