Como mencionamos no texto sobre o financiamento da Unicamp [1], são inúmeras irregularidades legais e deficiências políticas que levam à crise de financiamento da universidade, e as consequências dessa crise recaem de diferentes formas sobre as categorias — docentes, discentes e funcionários técnico-administrativos — presentes aqui. E também são diversas as formas que o grupo afetado direta ou indiretamente por essas consequências reage.

Em 2016, por exemplo, tendo em vista o déficit orçamentário de 2015 e a queda na arrecadação de ICMS, o reitor José Tadeu passou a Resolução GR nº10/2016 [2], posteriormente alterada pela Resolução GR nº13/2016 [3], que estabelecem medidas de contenção de despesas. O contingenciamento, que afetaria significativamente todas as categorias, foi uma das principais pautas da greve estudantil de 2016, que ocupou o prédio da reitoria sob o mote “COTAS SIM, CORTES NÃO. CONTRA O GOLPE, PELA EDUCAÇÃO, PERMANÊNCIA E AMPLIAÇÃO” [4].

Em 2018, em resposta a medidas de corte similares, os trabalhadores organizados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) também entraram em greve. Para além de reivindicações que já citamos no texto sobre financiamento da Unicamp [1], os trabalhadores se mobilizaram centralmente em torno do reajuste salarial. Mesmo com o crescimento da arrecadação de ICMS nos últimos dois anos, o poder aquisitivo do salário dos trabalhadores caiu em 12,52% em relação a maio de 2015 [5]. E isso na realidade da Unicamp e USP, já que na Unesp o índice foi de 15,90%. Sobre a trajetória da perda de salário dos docentes e funcionários técnico-administrativos, recomendamos a leitura dos dados levantados no Jornal do Fórum das Seis de outubro de 2017 [6]. A categoria, em assembleia, decide então pressionar a reitoria por um reajuste de 12,6% — tudo isso apenas para retornar ao poder aquisitivo que representava seu salário 3 anos atrás.

Frente a essa situação, o que a reitoria fez? Enquanto rejeitava toda proposta de reajuste vindo do STU, a reitoria aproveita o reajuste do funcionalismo público estadual feito pelo governador — com o teto deixando a faixa de R$21 mil e subindo para R$30 mil até 2022 [7] —  e decidiu por um reajuste de 3,5% no salário de todos que recebem a partir de R$21.631 [8]. Um impacto muito mais significativo na folha de pagamento da universidade, e que atinge apenas a sua parcela mais bem remunerada. Tomando a pauta central do reajuste, mas também muitas outras questões vitais para a categoria [9], o STU passou a mobilizar sua greve com atos para dialogar com a população nos hospitais, protestos em frente à reitoria em dias de negociação e de Consu, ida para protestos em frente a reuniões do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (CRUESP), e chegou até mesmo a ocupar uma sala da reitoria enquanto o reitor não voltasse para fechar uma negociação.

A greve dos funcionários tomou as três estaduais paulistas e teve solidariedade dos docentes, que também participaram de paralisações e, na Unicamp, declararam estado de greve [10]; os alunos também se mobilizaram e, no nosso instituto, deliberaram em assembleia por uma paralisação [11], cujas pautas temos abordado nos textos do comando mobilização. A reitoria recebeu um ofício do STU anunciando o fim da greve em 11 de julho [12], e a movimentação em torno das pautas da categoria desde então tem se dado em assembleias do sindicato e em negociações com a administração da universidade.

 

Referências

[1] – http://www.cal.iel.unicamp.br/?p=499

[2] – https://www.pg.unicamp.br/mostra_norma.php?id_norma=3965

[3] – https://www.pg.unicamp.br/mostra_norma.php?id_norma=4974

[4] – http://conexaocotuca.com.br/2016/08/29/o-movimento-estudantil-na-unicamp/

[5] – http://www.adunicamp.org.br/wp-content/uploads/2018/03/Boletim-do-F6-19-3-2018_web.pdf

[6] – http://www.adunicamp.org.br/wp-content/uploads/2017/10/Jornal-do-Forum-das-Seis-Outubro-2017.pdf

[7] – https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/governo-de-sp-considera-injusto-aumento-do-teto-salarial-dos-servidores.ghtml

[8] – Boletim do STU 009/2018

[9] – http://www.stu.org.br/wp-content/uploads/2018/05/Boletim_17_05_18_paralisacao_versao_final.pdf

[10] – http://www.adunicamp.org.br/professores-repudiam-proposta-da-reitoria-mantem-estado-de-greve-e-marcam-nova-assembleia-para-quinta-feira-28/

[11] – http://www.cal.iel.unicamp.br/?p=366

[12] – https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2018/07/11/reitoria-recebe-comunicado-do-stu-sobre-fim-da-greve