A Moradia Estudantil da UNICAMP, localizada em Barão Geraldo, é um conjunto de trezentas unidades habitacionais que abriga cerca de mil estudantes e que constitui o Programa de Moradia Estudantil (PME) [1][2]. Este programa é voltado para aqueles que não conseguem se manter em Campinas com seus próprios recursos financeiros, viabilizando a vida acadêmica e permanência dos estudantes. Para aqueles que não conseguiram vaga no PME ou estudam nos campi de Limeira e Piracicaba, é disponibilizada a Bolsa de Auxílio-Moradia [3].

A Moradia, cuja construção se concluiu em 1992, foi projetada pelo arquiteto Joan Villà na década de 80 [4]. Cada residência é construída para abrigar quatro estudantes e é composta por três cômodos, existindo também a opção de estúdios para famílias. Além das residências, o conjunto é composto por espaços comunitários, salas de estudos, área infantil, estacionamentos e uma linha de ônibus gratuita que é oferecida pela universidade e faz o trajeto até o campus de Barão Geraldo. As vagas são preenchidas segundo critério social e o processo seletivo é feito através do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE).

A história da Moradia começou em 1986 com o movimento estudantil TABA, considerado um dos mais organizados da história da UNICAMP, que deu início às negociações com a reitoria [5]. Sessenta estudantes ocuparam salas do Ciclo Básico I por mais de dois anos, reivindicando uma moradia gratuita aos estudantes de baixa-renda. Essa ocupação estudantil ficou conhecida como “A Taba”, em referência a tabas indígenas que eram caracterizadas por uma cultura de coletividade. O reitor Paulo Renato Costa Souza prometeu que 1.500 vagas – correspondente a cerca de 10% do total de estudantes daquela época – seriam entregues até o mês de julho de 1989 e,  no caso de não cumprimento das cláusulas que garantiam a construção da moradia, ele assinou um documento que autorizava o DCE/UNICAMP a ocupar novamente o campus, assim como o Movimento TABA havia feito. Em 1990, a Moradia foi inaugurada com novecentas e quatro vagas [6].

Os moradores, juntamente com estudantes de graduação e pós-graduação da UNICAMP, organizaram um cursinho pré-vestibular: o PROCEU Conhecimento. Este é um projeto autogerido, realizado e organizado por voluntários desde 1997, e tem como objetivo atender principalmente alunos de escolas públicas e/ou de baixa renda. Atualmente, o cursinho conta com por volta de trinta docentes e cinquenta alunos. Além das aulas, que ocorrem de segunda a sexta-feira das 18h45 às 22h45, também são oferecidos plantões de dúvidas e oficinas. A sede do PROCEU se encontra na sala do Centro de Convivência 2 (CV2) na Moradia Estudantil [7].

A questão da falta de vagas da Moradia não é recente. Na greve de 2016, os estudantes reivindicaram a expansão das vagas e conseguiram que o reitor José Tadeu Jorge assinasse um documento que a garantisse. Com o fim da greve, criaram-se grupos de trabalho (GTs) para analisar e avaliar a ampliação e os programas de permanência estudantil da universidade [8]. Ademais, há diversos problemas na infraestrutura que indicam uma falta de manutenção generalizada, como estruturas sob perigo de desmoronamento; problemas elétricos, de drenagem nas ruas e de infiltração de água nas casas; dificuldades na separação do lixo reciclável; e vazamentos. Há muitos casos de superlotação, com casas abrigando até sete estudantes, e vários casos de furto, principalmente de bicicletas dos moradores. Passadas basicamente duas décadas, a Moradia ainda enfrenta vários dos mesmos problemas.

Dado que nem todas as 1.500 vagas prometidas décadas atrás pela reitoria foram garantidas, que não existe um PME em Limeira e/ou Piracicaba e que há uma grande insuficiência de vagas, fica evidente a necessidade de uma luta contínua e consistente por condições básicas de moradia que estejam de acordo com (a defesa de) políticas de assistência e de permanência estudantil. Se o “objetivo é viabilizar a vida acadêmica dos estudantes da UNICAMP que encontram dificuldades financeiras” [1], então uma moradia estudantil digna é um espaço determinante para a garantia da democracia no acesso ao Ensino Superior e da permanência neste.


Recomendamos abaixo dois documentários sobre a Moradia Estudantil da UNICAMP e indicamos fortemente a leitura da tese de Carpanetti (2010), que discorre detalhadamente sobre a história da Moradia.


Referências

[1] https://www.servicosocial.sae.unicamp.br/index.php/pme-programa-de-moradia-estudantil
[2] http://www.cal.iel.unicamp.br/?p=472
[3] http://www.cal.iel.unicamp.br/?p=456
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Moradia_da_Unicamp
[5] http://conexaocotuca.com.br/2016/08/29/o-movimento-estudantil-na-unicamp/  
[6] http://ocupacaomoradiaunicamp.blogspot.com
[7] https://www.facebook.com/cursinhoproceu/
[8] https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2018/08/15/casa-da-diversidade
[9] http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.154/4895
[10] Carpanetti, R. R. A moradia vive! História da Moradia Estudantil da Unicamp (1985-2001). Campinas, SP: [s.n.], 2010.


*A ideia de redigir este texto veio da publicação de uma matéria do Estadão sobre a Casa dos Estudantes da USP, indicada pelo link abaixo.

https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,a-precaria-casa-dos-futuros-advogados-do-pais,70002504069

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