A recomendação de leitura dessa semana é o livro “A Mãe”, de Máximo Gork.

LITERATURA E REVOLUÇÃO

A classe trabalhadora produz Literatura e faz Revolução. Um exemplo é o livro “A Mãe”, de Máximo Gorki [1], inspirado nas manifestações do Dia do Trabalhador de 1902 da cidade de Sormovo, nas repressões e nos julgamentos czaristas aos trabalhadores. Pela perspectiva da luta de classes, o romance apresenta a mãe Pélagué, seu filho Pavel e outros camaradas inseridos na organização do movimento operário russo.

Segundo Engels, “a primeira opressão de classe coincide com a opressão do sexo feminino pelo masculino” [2]. Ambientada na Rússia pré-revolucionária, a narrativa apresenta o envolvimento de Pélagué nas atividades dos operários socialistas. Durante seu casamento, ela foi uma mulher que viveu em função do trabalho doméstico e sofreu com a violência de seu marido. Numa sociedade em que a divisão do trabalho social é decorrente das relações sociais do sexo — estabelecida pela divisão sexual do trabalho [3] — a essa personagem foram designados os trabalhos de reprodução da vida, ou seja, tanto a reprodução sexual quanto o trabalho doméstico. Assim, Pélagué viveu totalmente à disposição dos serviços da família.

Após a morte de seu pai, Pavel aproximou-se das lutas operárias e se organizou na luta comunista. Em sua casa, ele fazia reuniões entre camaradas e possuía livros proibidos pelo regime czarista. Isso fez com que sua mãe passasse a acompanhar as discussões efervescentes da luta revolucionária e também se envolvesse com a organização proletária. Mesmo com a perseguição e o medo da violência que esses trabalhadores sofriam, eles dirigiam as greves e revoltas dentro das fábricas para que o povo, futuramente, tomasse o poder das mãos de quem os explorava. Como Ademar Bogo formulou: “Para Lenin, os operários em luta entenderiam facilmente as ideias socialistas, que só se desenvolveriam entre eles com a sua própria organização” [4].

O envolvimento de Pélagué na luta proletária é narrado de forma muito bonita e forte. Ela realmente acolhe os camaradas de seu filho em sua casa e, em solidariedade, também é acolhida por eles. Assim, tornam-se todos camaradas. Como uma de suas tarefas, enquanto levava comida aos operários, a mulher também distribuía panfletos para propagandear as ideias revolucionárias, atividade essencial para a ação comunista, como formulado por Lenin em “Carta a um camarada” [5]:

“Estabelecer e organizar uma difusão rápida e correta da literatura, dos panfletos, das proclamas, etc., educar para isso toda uma rede de agentes significará realizar mais da metade da tarefa de preparação de futuras manifestações e da insurreição”.

A história possui momentos de exaltação e mobilização que retratam como a classe proletária, sendo explorada, têm grande potencial de revolta. Em um momento de agitação na fábrica, Pavel diz:

“Companheiros!(…) Somos nós que construímos as igrejas e as fábricas, que fundimos o dinheiro, que forjamos os grilhões… Somos nós a força viva que nutre e diverte o mundo inteiro, desde que nascemos até a morte… (…) Sempre e em toda a parte, somos os primeiros no trabalho enquanto nos atiram para os últimos lugares da vida”.

Nós produzimos todas as nossas riquezas. Por isso, em meio a tantas situações de opressão e exploração que vivemos, lembremos que como classe trabalhadora temos toda a força para nos levantamos para construir uma terra sem amos. Não abaixemos nossas armas diante daqueles que querem nos impedir de sonhar, lutar e construir uma nova sociedade. “Trabalhadores e povos oprimidos de todos os países, uni-vos”! [6]


Referências
[1] “A mãe” (Górki, 1925).

[2] “O gênero das lutas de classes emancipadoras conta com uma terceira espécie, além das duas já observadas [a libertação da classe operária e a libertação nacional]. Sim, existe outro grupo social bastante numeroso, aliás, tão numeroso que constitui (ou supera) metade da população total, um grupo social que sofre a ‘autocracia’ e que aguarda a ‘libertação’ (Befreiung) – trata-se das mulheres, sobre as quais pesa a opressão exercida pelo homem entre as quatro paredes. Estou citando um texto (“A origem da família, da propriedade privada e do Estado”) que Engels publicou em 1884. É verdade, Marx havia morrido fazia um ano, mas já entre 1845 e 1846 “A ideologia alemã”, texto ao qual Engels explicitamente faz referência, observa que na família patriarcal ‘a mulher e os filhos são os escravos do homem’. Por sua vez, o Manifesto, que não se cansa de acusar a burguesia por reduzir o proletariado a máquina e a instrumento de trabalho, chama atenção para o fato de que ‘para o burguês, a mulher nada mais é do que um instrumento de produção’; ora, ‘se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel de simples instrumento de produção’. A categoria usada para definir a condição do operário na fábrica capitalista vale também para definir a condição da mulher no âmbito da família patriarcal” (Domenico Losurdo, capítulo “A condição da mulher e a primeira opressão de classe” do livro “A luta de classes”).

[3] Sobre a divisão sexual do trabalho.

[4] Organização Política e Política de Quadros, Ademar Bogo.

[5] Carta a um camarada, Lenin.

[6] Referência ao chamado do “Manifesto comunista” (trabalhadores) adaptado para abarcar a luta anticolonial e anti-imperialista (povos oprimidos).


Resenha escrita por Júlia Zebini