Por Mariana

“Eu sempre estranhei jogos, ou até mesmo narrativas de filme, em que você era colocado na perspectiva de primeira pessoa. Entendo que a proposta é ir além na tentativa de imersão, tentando te tirar da sua própria visão e te colocando na da personagem, mas me soava uma tentativa muito inútil. Podemos estabelecer algumas explicações para isso, todas elas basicamente envolvendo os sentidos – você não sente os cheiros, o calor ou o frio que aquela personagem está sentido, o que você consegue ter de sentido no máximo é ouvir e ver a cena. Mas ainda assim, de uma forma muito limitada, e é essa limitação que me desconforta, principalmente a da visão.

Meus olhos, grandes, curiosos, conseguem ver a pontinha do meu nariz, mas não ele inteiro. Consegue ver a parte frontal do meu corpo, mas apenas de cima para baixo. Consegue ver algumas algumas partes da parte traseira com algum contorcionismo, mas nunca minha nuca.

E se essa visão é tão minha, por que ela não me satisfaz? Por que quando se trata da personagem alheia eu não queira ver perspectiva além, a minha me caiba, mas quando é para mim mesma eu preciso de uma visão outra? Já parou para se olhar sem se olhar num espelho? Por que eu preciso de um espelho, para ver como qualquer outro me veja, para achar que estou realmente me vendo? Isso considerando o absurdo que sempre que estou vendo algo, com os olhos abertos e um pouco mínimo de luz, eu não consigo deixar de me ver. Talvez eu esteja tão acostumada a ver partes de mim, que eu me esqueça de realmente enxergar. Talvez eu precise dessa relação dialógica entre usar o espelho para imaginar o que o outro, qualquer outro, estaria vendo para ter algum contraponto. Não sei bem. A única coisa é que eu acho que ficaria tão incomodada quanto fico com essas narrativas audiovisuais em primeira pessoa se tirassem o espelho do meu quarto.”