Como representante indicada pelo Centro Acadêmico da Linguagem (CAL) para participar da Comissão Eleitoral para a gestão do DCE em 2019, venho aqui relatar os acontecimentos dos dias 29 e 30 de novembro sobre as eleições do DCE.

No dia 29 de novembro, à tarde, a Comissão Eleitoral (CE) se reuniu com um representante de cada uma das três chapas (Coragem para vencer o medo, Katendê e Pro dia nascer feliz) para discutir sobre o número restante de cédulas que estavam na sede do DCE, quais institutos estavam precisando de mais cédulas, e também sobre a apuração de assinaturas das listas e de cédulas já liberadas (mas que ainda não haviam sido depositadas nas urnas). Uma das chapas defendia que o processo tinha que ser parado enquanto a apuração fosse feita, enquanto que outra chapa argumentava que fazer a contagem seria um desgaste e que só realmente saberíamos onde estava o suposto problema das cédulas assim que o momento da apuração dos votos acontecesse, após o fechamento de todas as urnas no final do dia.

As cédulas tinham acabado em três pastas diferentes (IB, IE e IFCH). Como só tínhamos um pacote com cinquenta cédulas dentro da sede do DCE, precisávamos decidir qual a melhor forma de prosseguir, já que as tais unidades estavam precisando de mais cédulas. Foi colocado que fizéssemos uma contagem do número total de cédulas restantes nas pastas das urnas que estavam lacradas dentro da sede do DCE. Eu mesma fiz isso com as pastas das sete urnas que estavam lacradas na central naquele momento. A partir do número de cédulas restantes lá, e com a chegada de mais dois pacotes da urna de Piracicaba que não haviam sido abertos, consideramos a redistribuição dessas cédulas para os institutos que estavam precisando de mais.

Nessa reunião, após uma breve discussão, foi consenso entre a CE e as três chapas que o processo eleitoral seguiria normalmente enquanto fizéssemos a contagem de assinaturas e cédulas, principalmente porque havia muitas pastas que ainda tinham pacotes com cédulas dentro. Ou seja, não fazia sentido fechar as urnas e/ou parar o processo eleitoral como um todo, impedindo os estudantes de votar, uma vez que era possível sim simultaneamente investigar a situação e deixar os votos continuarem caindo nas urnas. Além disso, ficou acordado que redistribuiríamos as tais outras cédulas para as unidades onde houvesse falta.

A reunião se encerrou e dois membros da CE conseguiriam rapidamente sair da central com pacotes de cédulas para entregarem para duas unidades. Além disso, pouquíssimos minutos depois do término da reunião, recebi informes de um militante que havia uma lista grande de urnas para serem fechadas e que dois homens, giros da União da Juventude Socialista (UJS), estavam no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) obstruindo a urna, impedindo estudantes de votar e parando o processo eleitoral naquele instituto. Como a CE não havia recebido nenhum pedido de fechamento de urna de qualquer Centro Acadêmico ou chapa, e como o CAL era um dos primeiros listados e havíamos garantido a abertura dessa urna até as onze horas da noite de quinta-feira, era evidente que a lista era completamente falsa.

Como eu já tinha começado a fazer a contagem mencionada acima antes do início da reunião, mas ainda precisava que as chapas entrassem em contato com os mesários e giros para coletar os números de assinaturas e cédulas de outras urnas, saí da central e corri para o IEL para tentar mediar a situação lá. Ao chegar no corredor da graduação, onde estava a urna do CAL, vi os tais dois giros da UJS furando o perímetro da urna e discutindo com as outras pessoas presentes lá. Fui conversar com eles, para informar o que literalmente tinha acabado de ser deliberado em reunião, enfatizando no fato de que isso tinha sido feito com acordo do representante da chapa deles e apenas quinze ou vinte minutos antes de eu chegar no IEL.

Como resposta, ouvi “Mas onde estão as duas mil cédulas que sumiram?!?!?” várias e várias vezes. Eles também acusaram a CE de “perder o controle das eleições”. Eu fui extremamente desrespeitada pelos giros da UJS e, posteriormente, por um giro do Disparada do Partido dos Trabalhadores (PT), que estavam completamente passando por cima de uma deliberação de uma reunião da CE. Um dos giros da UJS, que inclusive não estava usando crachá, sentou em cima da urna do CAL, para obstruir completamente a votação ali. Ressalto aqui, por esses e outros motivos, a violação do Artigo 14º e do segundo parágrafo do Artigo 21º do regimento das eleições do DCE — que pode ser acessado por meio do seguinte link: https://drive.google.com/file/d/1nHXqD87tI-e-yx6luG1ZftCxvMN_N5LW/view?fbclid=IwAR0DqGUfdnYAHKZ59noLV2yOadPjOUUo0frzXOsRFQpwjGuL5u8pLjrzkq4.

Abaixo, seguem algumas fotos meramente ilustrativas do ocorrido no IEL.

Fui informada de que esse mesmo tipo de situação estava ocorrendo em muitas outras unidades onde havia urnas abertas. No IB e no CB, alguém até tentou pegar e sair andando com as urnas. Todos os envolvidos com a UJS e a chapa Pro dia nascer feliz estavam agindo de forma coercitiva e absurdamente desrespeitosa, não só com os membros da CE, mas também com todos os estudantes da UNICAMP. Após falar com a presidente da UJS SP no telefone e após a chegada de outra integrante da CE no IEL, decidimos que a melhor opção era retornar à sede para resolver as coisas com todos os organizadores da chapa Pro dia nascer feliz. Estava claro que os giros da UJS só iriam se retirar do instituto sob ordem de alguém da base deles.

Retornando à central, conversei diretamente com a presidente da UJS SP e o 1° Secretário da UEE SP/militante da UJS. Ficou evidente que as urnas só seriam liberadas assim que houvesse uma estimativa mais fundamentada do número total de assinaturas nas listas e das cédulas que já tinham sido liberadas. Havia uma representante do Centro Acadêmico da Faculdade de Engenharia de Alimentos (CAFEA) pedindo a abertura da urna do CAFEA, e os organizadores da chapa Pro dia nascer feliz não queriam de forma alguma que mais urnas fossem abertas e que liberássemos mais cédulas. Apesar de eu contestar o que estava acontecendo em diversas unidades pela UNICAMP, eles insistiam que a base deles não estava de acordo com a discussão e a deliberação da reunião, uma vez que supostamente “seria pedir muito dos militantes e apoiadores deles não saber o que estava de fato acontecendo com as cédulas”, que “a apuração precisava ser resolvida primeiro” e que “era completamente fora de questão o processo eleitoral seguir daquele jeito”.

Esclareço aqui alguns pontos referentes às acusações feitas pelo UNICAMP Livre e pelos militantes e giros da UJS:

(i) A CE nunca “perdeu o controle das eleições”. — Não tínhamos qualquer motivo para acreditar que os pacotes de cédulas haviam sido roubados da sede do DCE, que qualquer uma das chapas teria feito isso ou algo por aí… Não era conveniente para qualquer pessoa arriscar não bater o quórum, uma vez que isto significaria a Comissão Eleitoral virar gestão do DCE até serem puxadas novas eleições no início do próximo semestre e teríamos que recomeçar completamente o processo eleitoral. No final da contagem, havia por volta de novecentas e cinquenta cédulas nas pastas das trinta urnas para ainda serem depositadas. Ou seja, no final das contas, descobrimos que não havia absolutamente nada de errado com as cédulas. Apenas houve uma demanda grande de cédulas de algumas unidades e os pacotes acabaram da sede mais cedo que o esperado. Após a apuração ter encerrado, vimos que sobraram muitas cédulas também, ou seja, não foi necessariamente um problema ter impresso somente quatro mil cédulas.

Por outro lado, sim, a CE cometeu alguns erros. Estávamos em pouquíssimas pessoas para puxar e lidar com esse processo eleitoral inteiro, o que dificultou imensamente a situação como um todo. Acatamos todos os nossos erros em reuniões da CE, diante de representantes das três chapas, e nos comprometemos a sempre tentar fazer o melhor possível, prezando pela manutenção da integridade e da lisura do processo eleitoral. Seria interessante para o ano que vem que mais CAs indicassem representantes titulares e suplentes, para desde poder realizar reuniões mais representativas até facilitar na organização de horários dos mesários em cada unidade. Mas, de forma alguma, a Comissão Eleitoral perdeu o controle das eleições, muito pelo contrário…  
  
(ii) O suposto desaparecimento de duas mil cédulas. — Retomando um pouco do que foi mencionado anteriormente, a estimativa inicial era de que havia ainda por volta de oitocentas cédulas para serem depositadas. Após a finalização da contagem, foi visto que na verdade esse número era um pouco mais alto. Mas em momento algum foi dito por qualquer membro da CE que duas mil cédulas tinham desaparecido. A chapa Pro dia nascer feliz fabricou essa informação para justificar a obstrução de todas as urnas que estavam abertas e implodir o processo eleitoral.

No final da noite do dia 29, alguns membros da CE tiveram que caminhar pelo campus para realizar o fechamento das urnas no CB, no IEL e em outras unidades, e também estávamos aguardando o retorno das urnas de Limeira. Fomos orientados a sempre estarmos acompanhados de militantes indicados pela chapa Coragem para vencer o medo, para garantir a nossa própria segurança e, principalmente, a segurança das urnas.

O processo de apuração se iniciou com uma reunião da CE para discutir o quórum e alguns outros pontos referentes à apuração em si. O representante da chapa Pro dia nascer feliz não mencionou qualquer coisa sobre o que tinha acontecido com tantas urnas e foi completamente cínico e hipócrita. O resto do grupo da UJS não tinha retornado aos bancos na frente do DCE desde que tinham sumido de lá na parte da tarde, quando começou o caos, e isso permaneceu assim por mais um tempinho. Vale ressaltar que fizemos um perímetro em volta da sede do DCE, para tentar garantir a segurança da CE e das urnas, e tentar deixar as discussões e a berraria do lado de fora da central.

A apuração de votos foi finalizada às seis horas e quarenta minutos da manhã do dia 30 de novembro. Os resultados foram:

  • Coragem para vencer o medo — 2067
  • Katendê — 203
  • Pro dia nascer feliz —  702
  • Brancos — 29
  • Nulos — 36
  • Total de votos — 3037
  • Total de votos válidos — 2972

Reitero que não houve qualquer tipo de desvio de votos e/ou sumiço de cédulas. O quórum foi atingido — de 2980 votos, considerando estudantes com matrícula trancada, e de 2500 votos, sem considerar tais alunos. Foram 3037 votos depositados nas urnas e um total de 2972 votos válidos. A chapa Coragem para vencer o medo foi eleita, com 68,06% dos votos válidos. Caso alguém queira ver os resultados de cada unidade ou quaisquer outras informações, é só acessar o seguinte link:
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1E5PPyDs1Jv52nNjl623Gmq0ousuYcgHvbn4QuNJJXVo/edit?usp=sharing.

Gostaria de enfatizar aqui que são posturas como a dos integrantes da UJS e da chapa Pro dia nascer feliz que afastam os estudantes da luta e do movimento estudantil. É completamente inaceitável questionar a autoridade e a representatividade dos Centros Acadêmicos e da Comissão Eleitoral nesse processo. A situação com o Centro Acadêmico de Geologia Asit Choudhuri (CAGEAC) — parcialmente esclarecida aqui: https://goo.gl/yFNEUt — foi um dos primeiros momentos em que a chapa Pro dia nascer feliz demonstrou essa postura e isso foi recorrente ao longo do processo todo. Acredito que o regimento das eleições do DCE precisa passar por diversas mudanças, a fim de garantir mais a lisura do processo e também proteger os membros da CE. Há diversos cenários que o atual regimento não prevê e observamos bem de perto as consequências a que isso leva. Esperadamente, no próximo CRU eleitoral, vamos conseguir fazer as devidas alterações, para tentar realizar eleições um tanto menos caóticas em 2019.

Na maior parte das reuniões da CE anteriores aos dias das eleições, ouvi repetidamente que “essas práticas eram típicas do movimento estudantil”. Acredito que cabe a nós nos mobilizar em direção contrária ao estado de se acostumar com esse tipo de jogo sujo. É absurdamente ridículo ver essa situação como um todo — após a chapa Pro dia nascer feliz ter falsificado mais de dez assinaturas na sua inscrição, ter impedido fisicamente a votação por muitas horas na quinta-feira, ter desrespeitado completamente os estudantes e ter sido bem antidemocrática —, e relembrar as reuniões da CE, em que a linha argumentativa da UJS e do Disparada/PT consistia em discorrer sobre representatividade, a lisura e transparência do processo eleitoral, a concepção de movimento estudantil, as condições éticas para compor a CE, etc. Foi dito que o jogo político se resolve nas urnas e que cabia aos estudantes decidirem que tipo de gestão eles queriam para o DCE no ano que vem… Bom, observei repetidamente que a UJS está de fato e na prática pouco preocupada em seguir o regimento das eleições e em deixar os estudantes decidiram nas urnas o rumo do DCE. 

A chapa Lima Barreto lamenta imensamente o ocorrido e repudia veementemente a postura antidemocrática da chapa Pro dia nascer feliz (UJS e Disparada/PT) e o boicote incentivado pelo Unicamp Livre. Em nome da atual gestão do CAL, peço desculpas a todos que não conseguiram depositar seu voto na urna devido ao que aconteceu no IEL. Os 164 votos na urna do CAL constituem um passo importante para garantir a representatividade discente e a legitimidade do processo eleitoral, contribuindo para o debate político e para dar forças ao movimento estudantil como um todo. 

Para finalizar, queria agradecer imensamente aos outros membros da Comissão Eleitoral por todo seu comprometimento, esforço e dedicação durante todo esse processo eleitoral.

— Julia Adams
Coordenadora Geral do CAL

Membro da Comissão Eleitoral das eleições do DCE


Há outro relato de um membro da Comissão Eleitoral,  representante do Centro Acadêmico Robert Perry (CAFEQ), que você pode acessar e ler por meio do seguinte link:
https://www.facebook.com/arthur.gabriel.37201/posts/1426526450813671

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *