CRÍTICAS AO ENSINO À DISTÂNCIA NO IEL,
CONSIDERAÇÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL NA QUARENTENA
E INFORME SOBRE AS AVALIAÇÕES DE CURSO

À comunidade do IEL.

Esta nota foi elaborada pelo Centro Acadêmico da Linguagem para fomentar a discussão sobre os principais problemas enfrentados pelo corpo estudantil em relação ao Ensino Emergencial a Distância (EEaD) implementado no IEL, sobretudo os que implicam a questão da saúde mental. Aqui também damos um informe sobre as avaliações de curso realizadas na última quarta (20/05) e expressamos o nosso posicionamento político frente a essas questões.

No dia 20 de abril de 2020, o CAL divulgou um formulário anônimo para o recolhimento de críticas quanto às aulas online atualmente em curso no instituto [1]. A partir do resultado deste formulário e de conversas com os estudantes, mapeamos com mais recorrência as seguintes críticas:

  • Falta de flexibilização da data de entrega de atividades;
  • Sobrecarga de atividades e leituras cobradas;
  • Cobrança de presença nas aulas online;
  • Ultrapassagem do horário de término das videochamadas;
  • Falta de acesso a livros, materiais e espaços de estudo que se encontram apenas nas bibliotecas;
  • Falta de espaço silencioso e adequado para o estudo em casa;
  • A piora no quadro da saúde mental.

Recentemente também recebemos relatos de que alguns docentes têm se posicionado argumentando que “a manutenção da rotina acadêmica com as aulas online ajudaria a saúde mental dos estudantes em isolamento social, pois ocuparia a cabeça deles de alguma forma”. O CAL expressa pleno desacordo com esse tipo de discurso. Através dos dados já apresentados, entendemos que o efeito das aulas à distância na saúde mental daqueles que já sofrem com problemas dessa natureza é exatamente o oposto. Afinal, não podemos considerar as aulas e atividades acadêmicas simplesmente como uma atividade de lazer e contato humano, pois os alunos são cobrados com responsabilidades e tarefas.

O excesso de cobranças nas aulas online ajuda apenas a agravar o quadro da nossa saúde mental, ainda mais no momento tremendamente atípico que vivenciamos, em que se coloca a necessidade do isolamento social, acompanhada do cuidado com a própria saúde e a de familiares, além de uma tendência para o aumento do estresse e das responsabilidades com tarefas domésticas. Qualquer debate sobre a saúde mental na quarentena precisa ser qualificado e sustentado em dados da realidade concreta [2].

Reiteramos a importância de que frequentemente haja a abertura, nas videochamadas ou fóruns de cada turma, para momentos de conversa entre estudantes, professores, PADs e PEDs, a fim de que todos sejam incentivados a francamente colocar em discussão as demandas, sugestões e problemas que possam estar enfrentando com a forma como as aulas online estão acontecendo. Aliado a isso, também defendemos a divulgação de meios anônimos para que as sugestões, demandas e críticas dos estudantes que não se sintam à vontade para se posicionar diretamente nas aulas também possam ser acolhidas: por exemplo, por meio dos formulários de departamento divulgados pelos docentes, do formulário do CAL, e do e-mail do GT-COVID-19 recentemente formado no instituto [3].

É igualmente importante que as demandas referentes ao corpo estudantil sejam discutidas nos espaços de reunião, como fizemos nas avaliações dos cursos de graduação realizadas na última quarta (20/05). Nelas, as principais críticas apresentadas pelos estudantes foram: o excesso de leituras e atividades cobradas; a falta de flexibilização na entrega das atividades; a falta de disciplinas eletivas oferecidas no período noturno e a perda de qualidade de adaptação ao meio universitário e de formação básica do primeiro semestre pelos ingressantes. Alguns professores foram elogiados pela forma bastante compreensiva com que reformularam seus cronogramas e cobranças em aula, adequando-se às necessidades das turmas neste momento tão atípico. Além disso, nos foi informado que qualquer retomada das atividades presenciais será bastante gradual [4], mas ainda é incerto quando será o final da quarentena na Unicamp; e que, portanto, há a possibilidade de que o EEaD se estenda até o segundo semestre deste ano, cujo início está cogitado para setembro.

Toda a comunidade do IEL precisa estar ciente das recomendações extremamente importantes, encaminhadas da 222ª reunião de Congregação, para que a carga de cobranças de leituras e atividades avaliativas seja reduzida neste momento de pandemia [5]. Lembramos também da resolução da reitoria para que a presença dos estudantes não seja cobrada: “durante o período de vigência desta resolução, será considerada frequência integral de todos os alunos de graduação, pós-graduação, extensão e dos colégios” [6].

Neste cenário pouco animador, tanto estudantes quanto professores e funcionários do instituto estão passando por um momento muito difícil. Portanto toda a comunidade do instituto precisa se sensibilizar com a situação daqueles que, neste momento, mais precisam desacelerar para cuidarem da própria saúde física e mental [7].

Reiteramos que, desde o início da quarentena decretada na Unicamp, o CAL se posicionou contra a adoção do EEaD no IEL [8]. Porém, uma vez implementado este semestre à distância, precisamos todos nos ajudar para garantir o melhor andamento das atividades entre toda a comunidade do instituto. Junto ao corpo estudantil, mesmo sem poder atuar presencialmente, o CAL tem atuado na mobilização dos estudantes via meios online, participamos de espaços deliberativos com docentes, coordenadores e a direção do instituto e nos posicionamos criticamente em defesa das nossas demandas.

O IEL e a Unicamp precisam manter o seu compromisso social através da garantia concreta de uma ambiente inclusivo aos estudantes bolsistas, cotistas, indígenas e trabalhadores que ingressaram na universidade através das ações afirmativas adotadas nos últimos anos. Para que a nossa luta em comum tenha como horizonte a construção de uma Universidade Popular, isto é, gratuita, de excelência, socialmente referenciada e realmente compromissada com a transformação social: “o mundo caduca e o presente é tão grande, mas não nos afastemos; não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”.


Atenciosamente,
Centro Acadêmico da Linguagem — Chapa Pagu, 24 de maio de 2020.


Referências

[1] Formulário para reclamações sobre as aulas à distância.
[2] Conferir a seção “B) Situação pedago e psicológica” deste texto.
[3] Divulgação do e-mail do GT-COVID-19.
[4] “Coronavírus: Unicamp cria projeto preliminar para retomada gradual das atividades presenciais”.
[5] Conferir o e-mail da direção do dia 03 de abril: “Nota da Congregação do IEL”.
[6] Resolução GR-024/2020.
[7] Sobre a necessidade de desacelerarmos neste momento.
[8] Nota do CAL no início da quarentena decretada na Unicamp.