Por Miaw

Frases utilizadas:
3. O que é raro tem valor; o abundante, não.
8. E nem tudo que é caro realmente custa alguma coisa


O GATO DOURADO

Era uma vez uma princesinha chamada Mima que vivia brincando sozinha pelo seu enorme castelo uma vez que seus pais, o Rei e a Rainha, viviam ocupados com suas próprias questões e só lembravam da menina em seu aniversário, quando lhe davam alguma das mais preciosas possíveis, feitas sob encomenda para a filha pelo melhor joalheiro do reino.

Um dia, nos jardins do castelo onde ela mais gostava de passar as tardes ensolaradas, Mima viu um gato de pelos dourados a encarando com seus enormes olhos no meio de um dos canteiros de flores. Ela se aproximou dele, que não parecia nem um pouco assustado com ela e, ainda, interessado em brincar!

Depois de brincarem bastante, o gato começou a correr em direção a um bosque que havia perto do castelo. A princesinha correu atrás dele (ninguém se importava com ela ou sobre onde ela estava, por isso ela podia ir longe sozinha) até que chegaram em uma velha choupana de madeira escondida na escuridão de onde saiu uma velha muito velha e muito feia! Ao ver a menina, perguntou o que ela estava fazendo ali.
— Estava apenas brincando com o gato! Ele por acaso é seu, minha senhora?
— Sim, o traste é meu. — respondeu a velha.

A princesa disse como gostaria de poder levar o gato com ela para o castelo (ninguém nunca notaria sua presença mesmo), que ela cuidaria muito bem do bichinho e daria qualquer coisa por ele, pois nunca tivera tão bom amigo! A velha, safada como ela só, já havia notado que a menininha só podia ser a princesa e disse:
— Acho que posso trocar o bichento por esse seu belo par de brincos.

A princesa hesitou, pois os brincos foram um presente caríssimo de seus pais em seu aniversário de um ano. Eles eram delicadamente feitos em ouro com uma pequena e perfeita pérola em cada. Mas aí lembrou-se como nunca olhava para ela e, portanto, jamais notaria que ela estava sem seus brincos e aceitou a proposta da velha, que vestiu os brinquinhos em suas enormes orelhas caídas. Mas, safada como ela só, a velha falou:
— Obrigada, meu benzinho. Mas amo tanto esse pulguento – cof, cof – que não sei se só os brincos serão o suficiente para preencher o vazio que ele me deixará… – disse a velha. — Acho que se me der este seu lindo braceletezinho também, talvez eu fique mais satisfeita.

A princesinha, novamente, hesitou. O bracelete era de ouro incrustado com caras e preciosas ametistas e feito sob medida para ela. Fora o presente de aniversário de seus pais no seu 2º aniversário. Mas lembrou-se mais uma vez que ninguém repararia se ela estava usando o seu bracelete e aceitou dá-lo na troca também. A velha, com um sorriso no rosto, vestiu o apertado braceletezinho em seu pulso ossudo. E disse:
— Eu quero te dar o gato fedorento, mas a falta que ele me fará é tão grande. Ficarei inconsolável. Acho que deve me dar este seu formoso colarzinho também.

O colar era enfeitado com pedrinhas lapidadas de delicado quartzo rosa raríssimas e vindas de terras distantes feito exclusivamente para a princesinha em seu aniversário de 3 anos. Claro que ninguém repararia que ela não tinha mais o colar e deu-o a velha também, que vestiu-o mesmo que apertasse muito o seu pescoço enrugado. E disse:
— Estou quase decidida, queridinha. Mas sabe como é, sou uma velha tão solitária… O que será de mim sem o ordinário? Você me entende, né?
A princesinha, já sabendo que a velha estava a pedir por mais, compreendia o quão valioso era o gato e que seria justo dar mais alguma coisa.
— Minha boa senhora, se eu puder ficar com o gato, prometo-lhe trazer alguma outra coisa valiosa minha para você amanhã, logo cedo.
E a velha aceitou o acordo. Mal podia esperar pela próxima joia!
Mima voltou então para o castelo com seu novo amigo. Nunca estivera tão feliz em toda a sua vida! Era o seu primeiro amigo e a amizade parecia ser recíproca!

Sozinhos em seu quarto real, ela lhe deu água e comida em belos pratinhos de porcelana com bordas de ouro, escovou seus pelos com sua própria escova e deixou ele deitar em sua macia cama. Ainda não sabendo como chamá-lo, perguntou a si mesma em voz alta:
— Qual seria o seu nome?
— Meu nome é Mimo. — respondeu o gato.
A princesa levou um susto maravilhoso! O gato falava!

Ele explicou-lhe que era um gato mágico e que a velha era, na verdade, a Bruxa Negra do Leste, e que ela tinha uma irmã mais nova, a Bruxa Branca do Oeste. Outrora, ele fora estimado companheiro da falecida mãe delas, uma bruxa muito poderosa e generosa chamada Celeste. Mas, infelizmente, suas filhas nunca foram como sua mãe, sempre foram egoístas e maldosas.

Quando a mãe delas morreu, deixou de herança sua varinha e seu gato, mas nenhuma das duas queria o gato e brigavam pela poderosa varinha, que acabou ficando com a irmã mais nova, que logo depois se mudou para o Oeste. Rancorosa por ter ficado com o gato, que para ela é um imprestável que só come e dorme, a irmã mais velha mudou-se para o Leste.

O gato era muito esperto e instruiu a menina a dar à Bruxa o seu precioso broche de ouro com uma reluzente esmeralda, que fora presente de seus pais em seu aniversário de 4 anos, e a menina aceitou.

No dia seguinte, os dois foram juntos a choupana da Bruxa, que quando recebeu a delicada tiarinha a colocou em sua enorme e feia cabeça e disse, fingindo lamento:
— Ontem chorei tanto de saudade do gato fedido… Se ao menos eu tivesse mais alguma joia para me consolar!

E a princesinha, comovida novamente, disse que no dia seguinte voltaria mais uma vez com mais algum tesouro para lhe alegrar.

De volta em seu quarto, ela acariciou e alimentou Mimo, e este lhe disse para, no dia seguinte, dar à Bruxa o seu pente ornado com âmbar, que ganhara em seu aniversário de 5 anos, e a menina assim o fez.

Como já era o esperado, a Bruxa continuou se mostrando insatisfeita com tudo que ganhava e fazendo com que a princesinha lhe desse mais e mais itens valiosos, ao passo que Mimo instruía-lhe sobre o que dar a Bruxa a cada dia. Disse-lhe para dar sua tornozeleira com safiras, que ganhara em seu aniversário de 6 anos. Depois, sua preciosa tiara real ornada de raros rubis, que ganhara aos 7 anos. E, por fim, seu mais precioso presente: o cetro de princesa ornado com todas as gemas preciosas possíveis de se comprar que ela ganhara aos 8 anos. Tudo foi dado à Bruxa, que continuava a insistir que não era o suficiente.

No próximo dia, era o aniversário de Mima. Ela ganhara dos pais o mais lindo anel de todo o reino, feito de ouro e o mais brilhante diamante já visto em todo o reino. Mimo lhe disse para não vestir o anel em hipótese nenhuma e darem o mesmo para a Bruxa.

Ao chegar na velha choupana, a princesinha entregou o lindo anel à velha bruxa, que não conseguiu colocá-lo em nenhum de seus dedos ossudos, a não ser no mindinho (e mesmo assim entrou só até a metade do dedo). No momento em que ela o vestiu, morreu na hora e virou cinzas bem na frente deles, deixando suas negras e esfarrapadas vestes esparramadas pelo chão.
Mimo, que sabia de tudo, disse que à Mima que a Bruxa Negra do Oeste não sabia que sua irmã mais nova, a tão perversa quanto Bruxa Branca do Leste, dava um jeito de amaldiçoar cada presente que o Rei e a Rainha mandavam fazer para sua filha desde o seu primeiro aniversário e que, quando a menina vestisse a 9ª joia em seu 9º aniversário, a peça sugaria, enfim, toda a sua beleza e juventude para passar à Bruxa Branca. O anel, porém, sugou toda a feiura e o resto de vida de sua horrenda irmã mais velha no lugar que, por já não ter muita vida pela frente, morreu e se desintegrou, deixando sua irmã mais nova agora mais feia e mais velha do que já era.

Livre das maldições e das duas maldosas bruxas, Mima e Mimo foram companheiros e brincaram juntos até o resto de suas vidas! E viveram juntos e felizes para sempre.