Atenção!

No dia 22/11, a chapa Eneida de Moraes, concorrente ao CAL em 2022, convida a todes para conhecerem seus membros e sua carta-programa.
Será um espaço para tirar dúvidas e trocar ideias!
Venham!

Confira o evento aqui!

Disponibilizamos, também, a carta-programa da chapa Eneida de Moraes abaixo.

Atenciosamente,
Comissão Eleitoral das eleições para o CAL de 2022.


CARTA-PROGRAMA PARA 2022

Chapa Eneida de Moraes — Centro Acadêmico da Linguagem (CAL)

QUEM SOMOS?

A chapa Eneida de Moraes é organizada por estudantes do IEL que se propõem a promover a representação discente no Instituto, para que as pautas político-sociais – relacionadas tanto à universidade quanto à atual conjuntura – pertinentes aos discentes sejam propriamente discutidas, sempre levando em conta nosso engajamento para com o Movimento Estudantil (ME). A partir desta carta-programa, apresentamos aquilo que nos move enquanto chapa – e, para isso, a organizamos da seguinte forma: (1) a justificativa da escolha de Eneida de Moraes para nomear nossa gestão; (2) as funções e as responsabilidades de um Centro Acadêmico; (3) a composição da chapa Eneida de Moraes; (4) como se organiza nossa estrutura interna de funcionamento; (5) nossa leitura crítica sobre a nova realidade da educação causada pela pandemia e pela intensificação das investidas do neoliberalismo; (6) um panorama sobre o IEL; e, por fim, (7) os posicionamentos e as propostas concretas para nossa gestão enquanto Centro Acadêmico do Instituto de Estudos da Linguagem.

1. CHAPA ENEIDA DE MORAES

Escolhemos o nome Eneida de Moraes em homenagem à escritora, pesquisadora, jornalista e militante paraense Eneida Villas Boas Costa de Moraes. Nascida em 1904, no estado do Pará, Eneida, uma mulher moderna e modernista, era uma grande personalidade das letras em seu tempo – escrevia para diversos jornais e se tornou notável pelas crônicas que publicou. Mudou-se para o Rio de Janeiro, depois de indas e vindas, para militar junto ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). No Rio, Eneida passou a escrever cada vez mais, e se envolveu com maior intensidade com cultura e arte populares – mais especificamente com o carnaval e com o samba, suas grandes paixões, que tornam-se foco de suas pesquisas e de diversos trabalhos da autora. Além de um célebre livro que remonta a história do carnaval carioca, ela fundou o tradicional Baile dos Pierrôs no Rio de Janeiro, o Museu Paraense de Som e Música e a União Brasileira de Escritores (UBE). Lutando pelos direitos de seu povo e por um mundo mais igualitário, foi presa mais de onze vezes por sua participação ativa na militância comunista – mas nada podia calar a voz dessa escritora inquieta e com sede de mudança.

Graciliano Ramos, ao relatar o primeiro encontro dos dois, em seu livro Memórias do Cárcere, a descreve como “uma mulher de fala dura e energética” [1]. E, assim, também desejamos atuar enquanto chapa. Queremos, enquanto Centro Acadêmico da Linguagem, honrar a voz poderosa, viva, corajosa e inteligente de Eneida de Moraes. Como representantes dos alunos do Instituto de Estudos da Linguagem, assumiremos o dever de lutar incessantemente pelos interesses da comunidade estudantil. Nos mobilizaremos sempre a favor de uma universidade popular e de uma comunidade geral mais igualitária e inclusiva, superando os desafios impostos a nós na atualidade.

2. O QUE FAZ UM CENTRO ACADÊMICO?

Os Centros Acadêmicos (CAs) são entidades estudantis representativas dos estudantes da graduação – e, caso não tenha uma Associação dos Pós-graduandos (APG), da pós-graduação –, de um ou mais cursos dentro de uma instituição acadêmica. Enquanto organização coletiva feita por estudantes do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, cabe ao Centro Acadêmico da Linguagem (CAL) representar os graduandos dos cursos de Letras, Linguística e Estudos Literários e os pós-graduandos dos programas de Divulgação Científica e Cultural, Linguística, Linguística Aplicada e Teoria e História Literária. Ademais, a fim de integrar e de dar voz às demandas da comunidade acadêmica do Instituto, o CAL busca garantir a comunicação entre os estudantes e as instâncias de deliberação do IEL e da Unicamp; também busca promover eventos acadêmicos, culturais e políticos; e realizar atividades recreativas extraclasse, como a CALourada. O CAL também possui uma sede dentro do Instituto, a qual é um espaço para que os diversos grupos existentes no instituto possam expressar suas identidades e compartilhar experiências. Nesse sentido, o CA mobiliza e organiza a comunidade discente em torno de pautas políticas nacionais – como as ameaças à vida, à saúde, à educação e ao trabalho –, para que avancemos nas lutas de nossa classe.

Sendo assim, o CAL participa ativamente da luta estudantil dentro e fora das instâncias institucionais, assim como mantém um diálogo constante com os Representantes Discentes (RDs) e com o movimento estudantil da universidade – incluindo o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e os Conselhos de Representantes de Unidades (CRUs), por meio das assembleias organizadas periodicamente por essas instâncias. Em consonância com essas esferas e com os demais espaços da universidade, a base dos estudantes tem um papel fundamental para que críticas e reivindicações sejam levantadas e devidamente organizadas, permitindo que centros acadêmicos como o CAL possam coordenar suas ações de acordo com as demandas estudantis.

3. COMPOSIÇÃO DA CHAPA

Vemos o Centro Acadêmico da Linguagem como uma entidade representativa de um conjunto plural de estudantes e que, portanto, deve ser também plural em sua composição. Já dentre os membros da chapa Eneida de Moraes, contamos com estudantes de vários cursos do IEL, tanto da graduação como da pós-graduação; que estudam no período integral e no noturno; pessoas engajadas na luta estudantil, feminista, LGBTQIA+, indígena e negra. Através da organização e da mobilização coletiva de todos os setores estudantis, podemos nos munir das ferramentas de transformação social necessárias para a edificação de uma realidade justa e popular. Compõem a chapa Eneida de Moraes:

  • Beatriz Tierno Waberski — Letras Integral 018.
  • Daniel Gostautas Carvalho Filho — Letras Noturno 019.
  • Debora Campiotto de Oliveira — Letras Noturno 021.
  • Gustavo Bonil da Silva — Letras Integral 021.
  • Heitor Duarte Derisso — Estudos Literários 020.
  • Helena Bridi Lona — Letras Integral 021.
  • Júlia Cristina Zebini — Letras Integral 019.
  • Kevin Souza Gonçalves de Oliveira — Letras Integral 021.
  • Lara Martins Ribeiro — Letras Integral 020.
  • Maria Clara Salla Nogueira — Letras Integral 021.
  • Maria Júlia Brito de Freitas — Letras Integral 020.
  • Maria Vitória Gomes Cardoso — Letras Integral 020.
  • Milena Teles Silva — Letras Noturno 021.
  • Mônica Maldi Pereira Sacco — Letras Integral 020.
  • Rafaela Daroz Mondelli — Letras Integral 021.
  • Sofia de Almeida e Mello — Estudos Literários 019.

4. ORGANIZAÇÃO INTERNA DO CAL

A Chapa Eneida de Moraes propõe uma forma de organização interna que visa abranger, de forma organizada e eficiente, todas as diretrizes anteriormente apresentadas como responsabilidades de um Centro Acadêmico. O estatuto do CAL [2] prevê a divisão entre Coordenador(a) Geral e Tesouraria, bem como entre outros coordenadores. Realizamos a inscrição da Coordenadoria Geral formalmente, mas, de forma prática, nos organizamos em outras coordenadorias. Além dos demais membros que as compõem, cada uma dessas conta com um coordenador eleito através de amplo acordo pelos membros da chapa. Acreditamos que, com essa divisão, garantimos o cumprimento mais eficiente de nossas tarefas e atendemos de maneira ampla as demandas apresentadas pelo corpo discente do IEL.

  • A Coordenadoria de Organização é responsável por acompanhar e orientar o funcionamento das demais coordenadorias, por atribuir a divisão de tarefas, por promover a leitura e o debate de temas relacionados à vida estudantil – desenvolvendo a formação política dos membros – e por garantir a manutenção de uma vida interna saudável entre todos os integrantes da gestão.
  • Exercendo a função de Tesouraria, a Coordenadoria do Financeiro é responsável por manter o caixa do CAL estável, por decidir para quais fins nosso dinheiro será utilizado e por promover campanhas financeiras, a fim de garantir recursos para a realização de nossos eventos e de outras necessidades referentes ao Centro Acadêmico e ao Instituto.
  • A Coordenadoria de Burocracia lida com as questões burocráticas envolvendo o CAL. Saber lidar com os documentos necessários para o funcionamento interno e externo do Centro Acadêmico – vide os diversos estatutos da universidade – e organizá-los é de responsabilidade desta coordenadoria. Também é sua função lidar com as demais instâncias do IEL e da Unicamp e manter a gestão informada sobre o que ocorre nas instâncias deliberativas do Movimento Estudantil — por exemplo: nas Assembleias Gerais e nos Conselhos de Representantes de Unidades (CRUs).
  • A Coordenadoria de Permanência tem como responsabilidade garantir a vivência acadêmica através de ações de apoio a alunos em situação de vulnerabilidade. As demandas feitas mais diretamente pelo corpo discente são atendidas por esta coordenadoria. Seu escopo de atuação abrange, desde a estrutura física e pessoal do IEL (reivindicando, por exemplo, mudanças no corpo docente ou acréscimo de funcionários), até situações que envolvam diretamente os alunos – de modo a acolher denúncias de assédio, de racismo, de LGBTfobia, de machismo e de quaisquer outros episódios de opressão, bem como a melhorar as condições para os alunos que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
  • A Coordenadoria de Pós-Graduação visa estabelecer, na prática, a integração dos pós-graduandos com o CAL, que estatutariamente também os representa. Entendemos que suas demandas são diferentes e, portanto, esta coordenadoria tem o objetivo de conferir atenção especial às demandas e aos problemas relativos à Pós-Graduação, além de proporcionar uma base inicial para se encaminhar a construção de uma APG (Associação de Pós-Graduandos) no IEL.
  • A Coordenadoria de Eventos é responsável por organizar eventos relevantes para a comunidade do IEL, de modo a abarcar questões do Instituto e do Movimento Estudantil da Unicamp, para além de temáticas candentes na conjuntura nacional. Ela também estrutura eventos recreativos (exemplos: saraus, apresentações musicais, exibições de filmes), visando fomentar a boa integração entre funcionários, professores e alunos do Instituto.
  • A Coordenadoria de Comunicação é responsável por gerenciar o email do CAL, os nossos canais de mídias sociais (Facebook e Instagram) e, também, por divulgar, constantemente, informes e eventos à comunidade do IEL – tanto através destas mídias, como também por meios físicos (cartazes e folhetos espalhados no Instituto).

5. A CONJUNTURA EM TEMPOS DE PANDEMIA E DE INVESTIDAS NEOLIBERAIS:
LUTAR CONTRA A PRECARIZAÇÃO DO ENSINO E PELA PERMANÊNCIA ESTUDANTIL!

O Brasil, no começo do século, enfrentou um período de alta dos preços das commodities e do consumo interno – e, por isso, a força produtiva no país precisou cada vez mais de força de trabalho qualificada. Isso acabou incentivando o investimento na ciência e na pesquisa nacional, que se deu tanto por instituições públicas quanto privadas. Porém, com a redução do consumo interno e das commodities, as contradições do capitalismo se acentuaram no país e esse cenário se inverteu. Agora, a produção foca muito mais na exportação, o mercado interno perde sua força e a “indústria nacional” é desestruturada. O desenvolvimento de ciência e de tecnologia nacionais quase não está presente neste cenário, com exceção de alguns aparatos relacionados à produção agrícola. As universidades, por sua vez, não precisam mais ser formadoras de força de trabalho qualificada. Assim, as privatizações, os desmontes e a retirada de direitos são medidas vendidas como necessárias para “sair da crise”, sendo que ela é intrínseca ao próprio sistema.

Com a pandemia, as violências contra a população se intensificaram ainda mais. A falta de comprometimento do Estado brasileiro com a população se fez presente desde o começo: massacres, despejos, falta de vacinas e ataques à educação não faltaram nos dois últimos anos. A educação e a ciência, essenciais para combater essa nova doença, foram sistematicamente atacadas, em prol do projeto neoliberal capitaneado pela política entreguista do governo Bolsonaro-Mourão e pela economia ultra conservadora e neoliberal de Paulo Guedes. Estes, a partir da difamação e da propagação de desinformação e de negacionismo, optaram por colocar em risco a vida de milhares de trabalhadores, numa grave crise sanitária que, em última instância, apenas contribui para que milionários aumentem seus lucros à custa das vidas do povo brasileiro [3].

Quanto à universidade pública, lugar já tradicionalmente reservado às elites burguesas de nosso país, ela parece estar a um fio de perder os custosos avanços estudantis de entrada e de permanência da classe trabalhadora marginalizada no ensino superior. Isso se deve às violentas tentativas de precarização das condições de estudo e de aprendizado, acentuadas pelo Ensino Remoto. Este expõe os abismos econômicos existentes entre os estudantes, além de contribuir decisivamente para o adoecimento mental de discentes – num projeto que se utiliza de falácias liberais e do conturbado momento histórico para implementação do Ensino à Distância (EaD) e que direciona, de maneira planejada pelo capital, para um processo de privatização.

Para piorar, as já escassas bolsas de estudo – que são, para muitos, a única forma de permanecer estudando – passam por um corte esmagador. Recentemente, o governo reduziu a verba que seria destinada à ciência, deixando-a apenas com 13% de seu valor anterior, o que afetou milhares de estudantes graduandos e pós-graduandos. Estes últimos vivem, em grande parte, sob uma rotina desgastante de trabalho e de pesquisa, pautada em manter a média produtivista que a lógica burguesa liberal delega aos indivíduos. Os cursos de licenciatura já estão sentindo os efeitos desse corte na educação: 60 mil estudantes estão sem receber o pagamento de bolsas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e da Residência Pedagógica (RP) [4].

Sendo assim, entendemos que, como a atual conjuntura é marcada pelo avanço intenso dos oligopólios da educação e pela acentuação da desigualdade social no Brasil, urge a necessidade de pautar e de organizar ações políticas no nosso local de atuação. Dessa forma, desejamos contribuir positivamente no processo de formação de consciência de nossa classe [5] e lutar contra investidas do projeto neoliberal, sem depender de tendências espontaneístas. Para isso, defendemos a educação popular, voltada para a classe trabalhadora, para todes; e não apenas para aqueles que podem pagar e que pretendem usar o conhecimento adquirido no ensino superior público para o enriquecimento de poucos – como as cartilhas do Banco Mundial e dos conglomerados empresariais de ensino privado prescrevem [6]. Reivindicamos, assim, a educação nas concepções de Dermeval Saviani, de Paulo Freire, de Álvaro Vieira Pinto, e de tantos outros educadores populares que a entendem como sendo algo que deve ser da classe e para a classe, com o intuito de transformar a nossa realidade.

Como entidade, devemos fortalecer e organizar os estudantes. Temos que ir além de boletins informativos, de meros eventos lúdicos, do espontaneísmo e do autonomismo – retomando o caráter combativo dos espaços do Movimento Estudantil. Precisamos reconduzir o ME, pois é fato que ele, atualmente, vem se distanciando da base dos estudantes e se limitando apenas a disputas institucionais – desde os Centros e Diretórios Acadêmicos até as UEEs (Uniões Estaduais de Estudantes) e, sobretudo, a UNE (União Nacional dos Estudantes). Além disso, a resistência contra o neoliberalismo – que aparece na universidade pública pelo avanço do Ensino Híbrido, junto do discurso empreendedor e meritocrático – e as lutas por permanência estudantil são fundamentais e indissociáveis da luta política que queremos construir e articular, pois esses são passos fundamentais para a construção de uma universidade popular.

Portanto, entendemos que vivemos um momento em que a organização política e o enfrentamento a todas essas violências contra nossa classe são indispensáveis e inadiáveis. Por isso, queremos construir essa luta junto dos estudantes do IEL. Assumimos, então, uma postura crítica e combativa. Não nos conformaremos com pouco, pois nosso objetivo é a transformação da realidade. Como disse Brecht: “Desconfiai do mais trivial (…). Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural. Pois, em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural. Nada deve parecer impossível de mudar” [7].

6. UM PANORAMA SOBRE O IEL

O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) existe desde março de 1977. Antes disso, o curso de Linguística, criado em 1968 e nascido de uma corrente muito forte da Filosofia da Linguagem existente no departamento de Filosofia, se localizava no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH). Com foco inicial em estudos linguísticos, o IEL foi sede do primeiro Departamento de Linguística do Brasil e, em seguida, testemunhou a criação dos departamentos de Teoria Literária e Linguística Aplicada (1982), sob direção do Prof. Dr. Antonio Candido de Mello e Souza. Desde então, nosso instituto passou por diversas mudanças – contando, atualmente, com quatro cursos de graduação (Estudos Literários, Letras integral e noturno, e Linguística) e quatro Programas de Pós-graduação (Linguística, Linguística Aplicada, Teoria e História Literária, e Divulgação Científica e Cultural).

Além dessas mudanças na constituição dos cursos e dos programas de pós-graduação, o IEL também presenciou uma diversificação em seu corpo estudantil – com a implementação das cotas raciais no programa de Teoria e História Literária em 2017, e, logo depois, em 2019, com o primeiro ano das cotas raciais e do Vestibular Indígena na Unicamp como um todo. Por conta disso, o CAL historicamente assumiu o papel não só de recepcionar esses novos grupos no IEL, mas, também, de defender a permanência de todos os estudantes. Essas questões se mostram cada vez mais urgentes quando se trata do auxílio aos alunos intercambistas, vindos de escola pública, indígenas e ingressantes via cotas raciais.

Entretanto, apesar dessa diversificação no corpo da nossa universidade, a permanência estudantil está sendo cada vez mais atacada, e podemos ver a intensificação desses ataques especialmente nas áreas de humanas. A não atualização dos valores pagos nas bolsas já existentes e a redução da quantidade oferecida, junto dos cortes que elas vêm sofrendo – tanto na graduação quanto na pós – implicam em uma integralização bem mais penosa e cansativa, fazendo com que uma parcela significativa dos alunos passem a depender exclusivamente de atividades remuneradas dentro das modalidades BAS (Bolsa Auxílio-Social), PAD (Programa de Apoio Didático) e PED (Programa de Estágio Docente). É importante destacar que esses tipos de bolsas exigem que o universitário trabalhe para conseguir o auxílio e, por mais que os estudantes estejam dentro do campus, isso prejudica suas vidas acadêmicas, já que o tempo que pode ser dedicado aos estudos é reduzido. Entretanto, como há poucas vagas nesses programas e como o critério para a concessão de bolsas é o Coeficiente de Rendimento (CR), muitos estudantes acabam precisando procurar por empregos – o que, na maioria das vezes, não é conciliável com a grade esperada dos cursos do Instituto. Isso pode ser observado no curso de Letras Integral, que concentra uma média de 32 créditos na grade ideal de um único semestre após o primeiro período (a partir do catálogo de 2019), fazendo com que seja extremamente difícil terminar a graduação no tempo mínimo. Já no curso de Letras noturno, concentra-se grande parte dos estudantes trabalhadores do IEL, que, por precisarem realizar atividades remuneradas durante o dia, possuem menos tempo para se dedicarem às obrigações acadêmicas. Ademais, muitos alunos – sobretudo, mas não exclusivamente, as estudantes mulheres – ainda precisam conciliar suas rotinas de trabalho e estudo com tarefas domésticas e com o cuidado de familiares (avós, pais, filhos, etc).

Outro problema que observamos no IEL é a falta de novos docentes, resultado da suspensão de contratações (que ainda não tem uma previsão para acabar). Isso é agravado pelo fato de que muitos professores não estão sendo propriamente substituídos após suas aposentadorias, levando a uma defasagem na integralização (já dificultosa) dos nossos alunos. Além disso, o IEL conta com o oferecimento de certificados nas áreas de linguística [8], editoração e tradução [9] – mas, devido à falta de professores, muitas das disciplinas necessárias para a obtenção desses certificados deixam de ser oferecidas. Isso leva muitos alunos a tomarem uma das seguintes decisões: postergar o fim da graduação, na espera de que o Instituto volte a oferecer as disciplinas faltantes para obter o certificado; ou, então, desistir da obtenção dos mesmos. Entretanto, quando as disciplinas conseguem ser ministradas por pós-doutorandos, estes, infelizmente, não recebem salários condizentes com a extensa quantidade de trabalho que realizam. Outra questão relacionada à falta de contratações na Unicamp também pode ser observada no Centro de Ensino de Línguas da Unicamp (CEL). Vários dos cursos lá oferecidos não possuem turmas avançadas (acima do nível 4), porque não há docentes para ministrar as disciplinas. Isso pode acarretar em maiores dificuldades no ingresso na pós-graduação do IEL – pois o doutorado, por exemplo, conta com uma prova de proficiência para duas línguas estrangeiras.

Para mais, apesar de nosso instituto possuir um histórico amplo de aceitação, em disciplinas e em cursos de graduação, de matrículas vindas de demais unidades de ensino, é comum que alunos de Letras, Linguística e Estudos Literários encontrem inúmeras dificuldades ao tentarem ser aceitos em disciplinas de outros institutos ou reingressar em cursos fora do IEL. Por fim, também é relevante mencionar que, dentre os estágios remunerados oferecidos no catálogo da Unicamp, pouquíssimos são voltados ao IEL.

Cada curso do IEL possui suas próprias demandas e reivindicações. Por isso, o CAL tem como função escutar as necessidades dos estudantes – de modo a dialogar com docentes, funcionários e membros da direção –, garantindo, assim, que todes tenham voz no Instituto. Os estudantes do período noturno, por exemplo, não se sentem contemplados pelos horários em que é realizada a maior parte dos eventos no IEL, dado que uma parcela significativa desses estudantes trabalha durante o dia; os alunos de Estudos Literários possuem questões relativas à composição do curso e a sua menor visibilidade. Já os pós-graduandos, apesar de serem, em grande parte, responsáveis por manter os índices de excelência de nossa universidade – a partir de publicações, participações em eventos e muito mais –, são esquecidos. É comum que eles exerçam duplas ou triplas jornadas de trabalho, visto que a maioria não consegue bolsas de pesquisa e que o processo para solicitar bolsas no SAE, já muito difícil na graduação, torna-se praticamente impossível na pós. As múltiplas jornadas de trabalho prejudicam tanto a qualidade de suas pesquisas, quanto a saúde mental dos pesquisadores – e esse é o custo para sustentar a qualidade das instituições públicas de ensino superior. Isso posto, é dever do Centro Acadêmico garantir que as dificuldades, as críticas e as sugestões levantadas pela comunidade discente sejam resolvidas, a fim de que nosso instituto seja um ambiente em que a permanência e as reivindicações estudantis sejam pautadas e devidamente tratadas. É necessário que um CA vá além de espaços deliberativos, já que compreendemos que esse espaço nem sempre se mostra, para os discentes e funcionários, um lugar de paridade e de deliberação coletiva.

Durante os últimos dois anos (2020 e 2021), o CAL teve um importante papel na defesa dos interesses dos discentes e na luta contra as dificuldades advindas do Ensino Emergencial a Distância (EEaD). Um exemplo dessa atuação é a manutenção da comunicação com os Representantes Discentes da Congregação – os quais defenderam, perante os docentes, o uso do conceito, ao invés de notas, e a inviabilidade de contar presença nas disciplinas. Entretanto, esses problemas não se originaram no Ensino Remoto. Desde 2019, a proposta de hibridização do ensino vem sendo posta em nossa universidade por meio do RenovaGrad e, com a pandemia, a defesa desse projeto se intensificou. O problema é que essa proposta não considera as dificuldades enfrentadas pelos estudantes. Como foi mostrado durante o isolamento social e o EEaD, os problemas vão desde a falta de infraestrutura em suas casas – demonstrada pela ausência de computadores, celulares, ou outros dispositivos eletrônicos e de uma conexão de internet boa –, até a intensificação das doenças mentais nos discentes. Um dos motivos para que isso ocorra é a imposição, por parte do home office, de que o local que deveria ser de descanso se torne, também, um ambiente de trabalho e de estudo. Além disso, a falta de preparação dos professores para enfrentar o EEaD, a dificuldade de foco advinda do ambiente online e a falta de contato humano evidenciam que o ensino remoto não se trata apenas de uma comodidade proporcionada pela internet, mas sim de um projeto de desmonte da qualidade e do acesso à universidade pública.

Como visto, esses problemas não compreendem pontos que serão magicamente resolvidos no próximo ano, quando esperamos retornar presencialmente à universidade. Precisamos, nesse novo período, nos movimentar contra a precarização e contra o desmonte da educação pública, que, como vimos, já estão acontecendo por meio das iniciativas da adoção do Ensino Híbrido e da perspectiva adotada pelos últimos governos – os quais defendem que ciência e a educação são um gasto para os cofres públicos e que é preciso, dessa maneira, reduzir o investimento nessas áreas. Desse modo, devemos nos organizar para lutar pela universidade que queremos, massificando e organizando a luta estudantil. Acreditamos que um CA deve fazer muito mais do que encaminhar reivindicações: ele deve defender e construir uma universidade para todes, dentro e fora das instâncias institucionais; reunir e dar força aos estudantes; atender aos interesses da classe trabalhadora e contar com a presença da mesma nos espaços universitários. Isto é, queremos criar uma universidade que permita a permanência, a pesquisa e a integração; uma universidade diversa e verdadeiramente popular.

7. NOSSAS PROPOSTAS

  • Defender os interesses da comunidade estudantil do Instituto de Estudos da Linguagem;
  • Organizar, editar e publicar o ManuIEL no início do próximo ano letivo (2022), a fim de promover uma adaptação mais suave para os ingressantes, além de divulgar informações pertinentes para que todes do IEL tenham um retorno seguro para a Universidade;
  • Realizar a CALourada do IEL, com eventos lúdicos (saraus, PipoCALs, CALraokês, etc) e políticos (mesas, debates, rodas de conversa, assembleias, entre outros), de modo que os ingressantes sejam plenamente integrados no nosso instituto;
  • Promover uma apresentação do CAL e da Chapa Eneida de Moraes aos ingressantes, a fim de convidá-los a participar ativamente na construção da nossa gestão;
  • Ampliar o contato com os Representantes Discentes do IEL e da Unicamp, além de, no segundo semestre, convocar as inscrições para os cargos de RDs;
  • Procurar uma maior aproximação com os estudantes dos Programas de Pós-Graduação do IEL;
  • Realizar reuniões abertas, divulgadas com antecedência, e reuniões ordinárias marcadas alternadamente nos horários de almoço e de janta, a fim de viabilizar a participação dos estudantes do período noturno nas atividades promovidas pelo CAL;
  • Promover eventos, atividades de formação e espaços de discussão sobre temas prementes na conjuntura política, sobretudo universitária – como a função de classe da universidade e as formas de materialização dessa função –, amplamente divulgados na comunidade do instituto.
  • Promover eventos recreativos (durante o período de pandemia, realizar partidas jogos online e, com o retorno ao Instituto, realizar saraus, campeonatos de Just Dance, karaokês, cineclubes, etc.), a fim de fomentar a integração entre funcionários, docentes e discentes do IEL.
  • Colocar-se ao lado dos estudantes na luta pela permanência e em favor das bolsas;
  • Cobrar o oferecimento de eletivas necessárias aos certificados (nos dois períodos, diurno e noturno);
  • Tendo em vista a curricularização da extensão no IEL, defender seu caráter popular, voltado para a comunidade de Campinas e região, e lutar para que ela não seja amarrada ao financiamento de grandes empresas;
  • Construir mobilizações e organizar os estudantes na luta pelo recebimento e pelo reajuste das bolsas do PIBID, da RP, da graduação e da pós graduação, tendo em vista a permanência estudantil;
  • Divulgar os informes e os eventos de interesse do corpo discente, virtualmente e, mediante retorno das atividades presenciais no IEL, por meio de passagens em sala e cartazes;
  • Junto aos Representantes Discentes do Departamento de Teoria Literária e aos estudantes do IEL, impulsionar a discussão sobre a implementação de cotas para pessoas transexuais na pós-graduação do Departamento e realizar as tarefas necessárias para que essa medida seja concretizada no Instituto como um todo;
  • Lutar, junto à comunidade do Instituto, pela contratação de professores no CEL e no IEL e por salários justos aos pós-doutorandos encarregados de disciplinas;
  • Combater as tentativas de hibridização do ensino;
  • Integrar os CRUs e as Assembleias Gerais, representando a comunidade estudantil do Instituto;
  • Dialogar com outros institutos – sobretudo IFCH, IA e FE – sobre medidas de aceitação de alunos do IEL em suas disciplinas e sobre possibilidades de institucionalizar o reingresso de graduados no IEL em cursos das unidades de ensino citadas;
  • Divulgar os estágios remunerados oferecidos pela Unicamp à comunidade do IEL e averiguar se é possível que mais oportunidades de estágio sejam oferecidas aos nossos estudantes pela própria universidade;
  • Promover maior visibilidade, dentro e fora do IEL, aos cursos de Linguística e Estudos Literários, além de tentar dialogar com outras instituições públicas de ensino superior que também os oferecem;
  • Participar das manifestações políticas em defesa da educação, da saúde, da ciência e da pesquisa; por trabalho, por moradia, por alimentação e por demais direitos básicos que devem ser garantidos à população. Mobilizar a comunidade do Instituto para que todes se envolvam na luta por uma universidade popular e por um mundo mais justo.
  • Mediante o retorno às atividades presenciais:
    • Retomar a organização dos armários no IEL
    • Fazer a manutenção e a limpeza da sede do CAL com regularidade, já que é um espaço público para a comunidade e, por isso, deve ser devidamente cuidado e preservado;
    • Auxiliar no cumprimento das medidas de segurança sanitárias durante o período de retorno às atividades presenciais;
    • Realizar excursões pelo Instituto e pela Universidade, de modo a apresentar os principais espaços àqueles que ainda não tiveram experiências com aulas presenciais na Unicamp;
    • Solicitar a flexibilização dos horários de uso da Informática, inclusive o uso durante o período da madrugada (vide como se faz no “bitolódromo” da FEEC e como se fazia antigamente no próprio IEL);
  • No caso de aulas remotas:
    • Ajudar os alunos que não tenham os recursos necessários para assistir às aulas e realizar atividades online;
    • Lutar pela diminuição da carga horária e de trabalho das disciplinas, por conta do ensino em Modelo Emergencial – algo que foi exaustivamente pontuado pelos alunos ao longo dos semestres.
    • Auxiliar a comunidade estudantil com o uso de diferentes plataformas de aprendizagem online;
  • Recolher e encaminhar as novas propostas a serem apresentadas, ao longo do ano de 2022, pela comunidade discente, em nossas reuniões abertas e em demais espaços oficiais de comunicação com o Centro Acadêmico.

REFERÊNCIAS

[1] RAMOS, Graciliano. Memórias do Cárcere. São Paulo: Record, 2011.

[2] Estatuto do Centro Acadêmico da Linguagem. Disponível em: https://www.cal.iel.unicamp.br/wp-content/uploads/2019/09/Estatuto- CAL-2016.pdf​

[3] “Brasil: 42 bilionários aumentaram suas fortunas durante a pandemia de COVID-19”. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2020/07/27/internas_economia,1170395/brasil-42-bilionarios-aumentaram-fortunas-durante-a-pandemia-covid-19.shtml

[4] “MEC não pagou as bolsas de formação docente da Capes em setembro”. Disponível em: https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/mEC-nao-pagou-as-bolsas-de-formacao-docente-da-capes-em-setembro1

[5] IASI, Mauro Luís. Processo de Consciência. São Paulo: Centro de Pesquisa e Documentação Vergueiro, 1999.

[6] “Kroton Educacional: ‘Em termos de educação pública nunca experimentamos um inimigo com uma força social tão concentrada como esse”. Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/578444-kroton-educacional-em-termos-de-educacao-publica-nunca-experimentamos-um-inimigo-com-uma-forca-social-tao-concentrada-como-esse

[7] BRECHT, Bertolt. Antologia poética. Rio de Janeiro: ELO Editora, 1982.

[8] Certificados de estudos em Linguística – Instituto de Estudos da Linguagem. Disponível em: https://www.iel.unicamp.br/br/content/certificados-de-estudos-em-lingu%C3%ADstica

[9] Certificados de estudos no curso de Estudos Literários – Instituto de Estudos da Linguagem. Disponível em: https://www.iel.unicamp.br/br/content/certificados-de-estudos-no-curso-de-estudos-liter%C3%A1rios