Na noite do dia 2 de setembro, o Museu Nacional do Rio de Janeiro, a instituição científica mais antiga do país, sofreu um incêndio e perdeu grande parte dos artefatos que mantinha. Segundo a Folha de São Paulo [1], o museu funcionava sem a autorização dos bombeiros e possuía diversos problemas, entre eles falta de requisitos básicos de segurança contra incêndios, instalações elétricas antigas e picos de energia. Além disso, as verbas necessárias para a manutenção e renovação do museu não eram repassadas normalmente desde 2014 [2][3]. Muitos dos artefatos que pegaram fogo são irrecuperáveis, como o fóssil humano do crânio, nomeado Luzia, que foi encontrado em território brasileiro e é considerado um dos mais antigos da América do Sul. Ademais, o Museu Nacional contava com a coleção de múmias e artefatos egípcios mais antiga da América Latina. Outra perda enorme foi o conjunto de material não digitalizado de línguas indígenas sem falantes vivos que só existia ali, línguas que agora estão extintas.

 

Imagem do incêndio que ocorreu no dia 2 de setembro no Museu Nacional.

 

A própria estrutura do Museu Nacional tem uma grande importância histórica, tendo servido de exílio para a família real portuguesa de 1808 a 1821, quando fugiram para o Rio de Janeiro em 1807 para escapar de Napoleão Bonaparte. O local foi criado pelo rei João VI e aberto em 1818, completando 200 anos de criação no dia 6 de junho de 2018. Além de patrimônio histórico e cultural, o museu tem um valor científico que pode ser observado em todas as pesquisas de mestrado e doutorado em antropologia social, arqueologia, botânica, geociências, linguística e zoologia.

O ocorrido no Museu Nacional é uma perda inestimável para nossa história e cultura, e mobiliza a todos. Muitos estudantes, professores e pesquisadores protestaram em frente ao edifício destruído em indignação e solidariedade após o incêndio. Tentando preservar a memória do que já foi perdido, os estudantes do curso de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) estão se mobilizando para recolher arquivos, fotos ou qualquer registro que exista do museu, que podem ser enviados para o e-mail thg.museo@gmail.com.

O incêndio no Museu Nacional é consequência também do sucateamento das instituições de ensino e cultura, processo que vem se intensificando com o passar dos anos. Um exemplo que está bem próximo de nós é a Biblioteca Antonio Candido, localizada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), que espera uma reforma estrutural e elétrica depois de já ter sofrido um incêndio em 2013. A biblioteca, que possui o segundo maior acervo da Unicamp, ainda corre risco de outro incêndio e por isso precisa de uma reforma urgentemente. Para prevenção em caso de curto-circuito, foi colocada uma parede corta-fogo entre os aparelhos eletrônicos e grande parte do acervo. Os funcionários da biblioteca e a Direção do IEL fazem o que podem para proteger o nosso acervo, mas continuamos em estado crítico.

Imagem do local onde era realizado o atendimento ao público na biblioteca do IEL.

 

Imagem da sala onde os livros eram catalogados antes de irem para o acervo da biblioteca.

É extremamente decepcionante ver como instituições que servem como fontes de arte, cultura, conhecimento e educação estão sendo tratadas com descaso pelo governo e pela nossa sociedade. Como estudantes e usuários dessas instituições, é preciso que continuemos a nos mobilizar e pressionar para que haja uma reformulação dos modelos de manutenção desses patrimônios e para que a nossa reforma aconteça. Não podemos deixar que uma tragédia como a do Museu Nacional aconteça na nossa biblioteca. Esse patrimônio é nosso, assim como de toda a sociedade brasileira.

Referências

[1] https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/09/ate-o-incendio-museu-nacional-funcionou-sem-autorizacao-dos-bombeiros.shtml

[2] https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/04/politica/1536097870_413822.html?rel=mas

[3] https://ufrj.br/noticia/2018/09/04/nota-sobre-orcamento-da-ufrj