Informe à comunidade do IEL sobre o andamento do Ensino Emergencial à Distância (EEAD) e como essa questão foi pautada na Congregação do dia 2 de abril.

No dia 2 de abril de 2020, o Centro Acadêmico da Linguagem e os RDs da pós-graduação realizaram uma reunião prévia à Congregação com a direção do IEL e as coordenações de graduação, pós-graduação e de cada departamento, a fim de pautar o andamento das aulas à distância no instituto.

Neste espaço reiteramos o posicionamento já firmado em nossa nota política (1): reforçamos as reivindicações do corpo estudantil (2) e reivindicamos a suspensão das atividades acadêmicas à distância durante o período de quarentena. Para além disso, defendemos mais três medidas:

  1. A criação de disciplinas especiais para os alunos bolsistas, estas sem qualquer tipo de demanda, visando unicamente a manutenção integral das bolsas BAS e BAEF (3);
  2. A posterior negociação coletiva sobre o calendário de reposição, assim que as atividades presenciais voltassem ao normal;
  3. A publicização do resultado dos questionários já realizados com estudantes do instituto, em que foram registradas as nossas condições de acesso às medidas emergenciais de ensino à distância.

A partir de um diálogo prévio com o CAL, os RDs da pós também pautaram questões como: a sobrecarga de bolsistas PED, o acesso remoto a recursos digitais da biblioteca e a situação das bancas de defesa e de qualificação. 

De modo geral, a direção manteve o mesmo posicionamento divulgado para a comunidade do IEL via e-mail, ou seja, contrário à suspensão do semestre. Os professores presentes também adotaram este posicionamento. A partir daí, esgotadas as possibilidades de negociar a suspensão do semestre à distância, nos foi proposta a negociação sobre algumas medidas que poderiam ser tomadas para ajudar os alunos com a manutenção das aulas, sobretudo para evitar que parte deles precise trancar as disciplinas.

Então levamos o exemplo de uma disciplina de TL na qual todos os alunos matriculados serão aprovados com nota 7, independente de estarem acompanhando as aulas online, e aqueles com acesso às plataformas digitais (e com disposição e saúde para continuar as disciplinas) poderão entregar trabalhos para obter uma nota maior. Com o retorno das aulas presenciais, os estudantes anteriormente sem acesso ao EEAD poderão repor o conteúdo perdido e desenvolver algum trabalho final para aumentar a nota. Sugerimos que esta aprovação geral dos estudantes com uma nota mínima poderia ser uma medida adotada por todo o instituto, o que também não foi aceito.

Por fim, junto à direção e coordenações do IEL, conseguimos aprovar os seguintes encaminhamentos que foram levados à congregação: a flexibilização dos prazos de entrega de trabalhos, a diminuição (ou mesmo suspensão) das atividades avaliativas até o retorno das aulas presenciais e a não cobrança de presença nas aulas online. 


Após esta primeira reunião, ocorreu a 222ª Congregação do IEL, na qual os seis Representantes Discentes (dentre os quais cinco são do CAL) participaram e conseguiram incluir como pauta a situação do ensino emergencial à distância (EEAD) no instituto. Em conjunto com o corpo docente, foi apresentado e discutido o documento previamente encaminhamento com as medidas acima. 

No geral, os encaminhamentos propostos foram bem aceitos pelo corpo docente. No entanto, a grande maioria discordou quanto à suspensão total de atividades avaliativas, concordando apenas com a diminuição da carga de avaliações exigidas e uma maior flexibilização das datas de entrega. Também concordaram que, caso aplicassem provas realizadas na hora, isso seria feito apenas presencialmente quando as aulas no campus voltassem ao normal.

Além disso, uma professora sugeriu a criação de um grupo de trabalho (GT), com participação tanto de docentes quanto de RDs, a fim de acompanhar as turmas e recolher as demandas e dificuldades que surgirem ao longo do semestre. Expressou certa preocupação quanto ao formulário divulgado pelo departamento de HL para saber a acessibilidade dos alunos ao EEAD, uma vez que não se sabe por quanto o tempo a quarentena durará e, portanto, as respostas registradas poderiam mudar com o passar do tempo (por exemplo, o as condições de acesso às redes wi-fi).

O posicionamento de grande parte dos docentes foi favorável ao EEAD como medida paliativa durante o período de quarentena, para que o andamento do semestre seja o menos prejudicado possível. Dois docentes trouxeram experiências positivas com as aulas online, apontando uma boa participação dos alunos. Outros se disseram incertos, pois não estavam tendo uma resposta tão participativa dos estudantes e temiam que isso viesse a piorar com o passar do tempo.    

Uma docente se colocou absolutamente contra o EEAD, afirmando que esta era uma medida segregadora, uma prática usada por instituições privadas, com concepções mercadológicas de ensino, concepções inclusive em concordância com as políticas de desmonte do ensino superior público adotadas por Jair Bolsonaro. Ressaltou pontos importantes, entre eles: o agravamento das condições de opressão de gênero, já que seriam ainda mais prejudicadas as estudantes mulheres (às quais muitas vezes são encarregados os afazeres domésticos e o cuidado dos filhos, além das responsabilidades com o trabalho). Ademais, ela pontuou que a realidade das universidades do exterior que estavam adotando o EEAD era diferente às do Brasil, pois elas estão em final de semestre. Por último, disse que os professores deveriam considerar que, apesar de eles serem responsáveis por poucas disciplinas e, assim, sofrerem um desgaste menor, os estudantes cursam um número muito maior de aulas. Desse modo veementemente crítico, salientou que o ensino de qualidade deveria ser prezado. Os RDs se posicionaram de pleno acordo com o posicionamento firmemente defendido pela docente. 

Por fim, como encaminhamento após longa discussão sobre esta pauta, foi recomendado que os docentes adotem as seguintes medidas durante o tempo de suspensão das aulas:

  1. Que sejam flexibilizadas a carga e as formas de avaliação, especialmente em relação a prazos, inclusive considerando a possibilidade de suspendê-las enquanto durar o período de quarentena na Unicamp.
  2. Que, aos alunos que não tiverem condições de acompanhar as atividades não presenciais, seja garantido um prazo de reposição de conteúdo e avaliação ao final do semestre letivo.
  3. No planejamento das atividades não presenciais, que seja considerado o tempo demandado aos alunos, de forma a não sobrecarregá-los nesse período tão delicado com trabalhos que exigissem dedicação maior do que aquela que seria demandada em tempos de normalidade.
  4. Que seja respeitada a carga horária estabelecida no processo seletivo PED, considerando que os alunos de pós-graduação precisam atender demandas específicas e diferenciadas da graduação; recomenda-se que as atividades virtuais sejam deliberadas com o bolsista, respeitando suas possibilidades de acesso.
  5. Que, para cada turma, seja feito o acompanhamento dos alunos com dificuldade de acesso às atividades planejadas para o ambiente virtual, o que pode ser feito com a ajuda de um representante de turma. Prioritariamente, deve-se incentivar todos os alunos a não cancelarem matrículas nesse momento. A direção, em conjunto com a coordenação de graduação, constituirá um grupo de trabalho para apoiar esse acompanhamento ao longo de todo o semestre, em especial naquelas disciplinas que não contam com o apoio de monitores PED ou PAD.
  6. Que todos os docentes fiquem atentos ao disposto no artigo 6 da resolução GR 24/2020: “Durante o período de vigência desta resolução, será considerada frequência integral de todos os alunos de graduação, pós-graduação, extensão e dos colégios.” Ou seja, nenhum professor poderá cobrar presença.

Os seis RDs da Congregação reiteraram que o cancelamento das atividades à distância seria a medida mais justa a ser adotada neste momento. Todavia, como esta reivindicação não foi aceita pelo corpo docente, decidimos mediar a negociação que envolveu as medidas acima. Caso os estudantes tenham quaisquer problemas neste período de EEAD, pedimos que contatem o CAL ou o GT que está em vias de formação; é nossa responsabilidade exigir que medidas sejam tomadas para enfrentar os problemas que puderem surgir ao longo do semestre e, assim, intervir para que nenhum aluno seja prejudicado neste momento tão atípico. Reafirmamos, a todo momento, e sempre afirmaremos o projeto de Universidade Popular que nos guia, tal como está expresso em nossa carta-programa (4)

Neste período de quarentena, pedimos a todos que puderem que fiquem em casa; que desobedeçam o presidente e protejam o nosso povo.

Centro Acadêmico da Linguagem, 
10 de abril de 2020.


Referências:
(1) Nossa carta aberta à comunidade do IEL e de reivindicação política, divulgada com alunos, professores, direção e coordenações no dia 24 de março.
(2) As demandas estudantis pautadas em reunião foram coletadas no questionário organizado pelo CAL no dia 19 de março, logo no início da quarentena:
(3) Com o intuito de se adequar à seguinte medida imposta pela Reitoria: “Para ser contemplado e fazer jus ao pagamento da bolsa BAS e BAEF, o estudante deverá permanecer ativo, cursando disciplinas no semestre (artigo 11, § 2). Conferir a Resolução GR nº. 35/2020, de 24/03/2020.
(4) Nossa carta programa.